domingo, 1 de junho de 2014

Comunicar é ir ao encontro


Comunicar é ir ao encontro

​Uma verdadeira cultura do encontro brota da plena comunicação, que começa pela disponibilidade, abertura e doação, para descobrir quem é o nosso próximo


 
 

Família Cristã

 

Qual a relação que existe entre o prólogo do Evangelho de João, um samaritano e a mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais deste ano?

É impossível não ficar inquieto diante da questão fundamental e estruturante colocada pelo Papa Francisco na mensagem do 48.º Dia Mundial das Comunicações: «Como pode a comunicação estar ao serviço de uma autêntica cultura do encontro?»

Superado o primeiro impulso de refletir sobre as diversas possibilidades que as novas tecnologias da informação oferecem à comunicação e ao “encontro” com inúmeras pessoas do mundo todo, e sobre a incoerência da sociedade em rede que nos aproxima do distante e nos distancia do próximo, fui “tentado” a ir além e retornar ao elemento fundador da nossa fé: a encarnação do Verbo.

Deus – o Verbo, a Palavra – fez-Se homem. Este é o encontro fundamental entre a divindade e a humanidade e, como tal, modelo para toda a cultura do encontro.

Professamos que Deus criador do mundo Se foi manifestando à Sua criatura ao longo da história e num momento pontual Se revelou de modo definitivo. A Encarnação é por isso a comunicação perfeita entre Deus e o ser humano. E esta comunicação deu-se num encontro, Deus fez-Se próximo. Na verdade, a divindade uniu-se plenamente à humanidade em Jesus Cristo, e este é o ponto de partida para compreendermos a profundidade da mensagem do Papa Francisco e a necessidade de utilizarmos a comunicação para criarmos uma verdadeira cultura do encontro.

A mensagem fala do comunicar como um «tomar consciência de que somos humanos, filhos de Deus», sendo o seu objetivo a “proximidade”. Comunicar é fazer-se próximo, como Deus na Encarnação. Entretanto, esta proximidade concretizada em Jesus Cristo é dinâmica e edificante. A divindade não só se aproxima da humanidade, mas envolve-a e transforma-a. Deus revela-Se, mostra como é e assume inteiramente a condição humana, partilha da sua condição.

Algo semelhante é o que acontece com o bom samaritano, parábola utilizada pelo Papa e que nos ajuda a compreender que comunicar é ir ao encontro, aproximar-se; e aproximar-se é cuidar, partilhar de uma condição, ter compaixão (sentir ou sofrer com). Não basta “circular pelas estradas (digitais)” e “ver” as pessoas. É preciso “sentir com”, “criar com”, partilhar mais que palavras e imagens bonitas e pré-elaboradas. É preciso envolver-se, comprometer-se, como o bom samaritano.

Comunicar é também assumir riscos, superar o medo de “tornar-se impuro”. É sair do nosso conforto, deixar os nossos “palácios”, como o samaritano que parou para ajudar um desconhecido, como Deus saiu do Seu Reino dos Céus para vir ao mundo. Entretanto, o samaritano não “se contaminou”, mas sim salvou um homem; e em Jesus Cristo a divindade não se tornou impura, mas sim a humanidade que foi salva, redimida. Assim chegamos a uma questão delicada: A Igreja hoje quer evitar “contaminar-se” ou quer salvar?

Comunicar não significa estar num “púlpito” ou numa “cátedra” a proferir palavras, por mais verdadeiras e profundas que sejam. Comunicar é ir ao encontro e possibilitar o encontro, criando tais condições. A Igreja deve ser a primeira a dar o exemplo, insiste o Papa Francisco. Deve ser a primeira a sair do seu conforto para ir à procura do outro, aceitando plenamente a sua condição.

Assim como Deus “deixou” a Sua perfeição para assumir a limitação humana em Jesus Cristo, para que a verdade do Evangelho toque o mundo (o “século”) é preciso deixá-la misturar-se, ir até as periferias. É preciso deixar o púlpito e a cátedra para ir à rua e às praças. «É preciso uma Igreja que consiga levar calor, inflamar o coração», diz o Papa. «É preciso saber-se inserir no diálogo com os homens e mulheres de hoje, para compreender os seus anseios, dúvidas, esperanças, e oferecer-lhes o Evangelho. [...] É importante a atenção e a presença da Igreja no mundo da comunicação, para dialogar com o homem de hoje e levá-lo ao encontro com Cristo: uma Igreja companheira de estrada sabe pôr-se a caminho com todos.»

Uma verdadeira cultura do encontro brota da plena comunicação, que começa pela disponibilidade, abertura e doação, para descobrir quem é o nosso próximo e a ele testemunhar Aquele que é modelo de comunicação e de encontro.
 

sources: Família Cristã

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